Escanção e metrificação
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- Minha terra tem palmeiras,
- Onde canta o sabiá;
- As aves, que aqui gorjeam,
- Não gorjeiam como lá.
- Nosso céu tem mais estrelas,
- Nossas várzeas têm mais flores,
- Nossos bosques têm mais vida,
- Nossa vida mais amores.
- Em cismar, sozinho, à noite,
- Mais prazer encontro eu lá;
- Minha terra tem palmeiras,
- Onde canta o sabiá;
- Minha terra tem primores,
- Que tais não encontro eu cá;
- Em cismar - sozinho, à noite -
- Mais prazer encontro eu lá;
- Minha terra tem palmeiras,
- Onde canta o sabiá;
- Não permita Deus que eu morra,
- Sem que eu volte para lá;
- Sem que desfrute os primores
- Que não encontro por cá;
- Sem qu’inda aviste as palmeiras,
- Onde canta o sabiá.
- Gonçalves Dias
- Nos versos lidos, você deve ter percebido uma alternância regular e sistemática de sonoridade, obtida pela sucessão de sílabas fracas e fortes. Na prosa, a alternância de sílabas fracas e fortes não é regular. No texto em versos, porém, há ocorrência regular de sílabas fracas(de menor intensidade) e de sílabas fortes(de maior intensidade). Daí surgir o ritmo , a melodia do verso. Os elementos rítmicos e melódicos são fundamentais, tanto para o poeta como para o leitor. Não há poesia sem ritmo. Modernamente, a poesia toma as formas mais variadas. Há textos em prosa que têm poesia, assim como há textos em verso que não são poéticos. A poesia está acima das formas; ela é a expressão da alma humana, como o são outras formas de arte. Um conjunto de versos forma uma estrofe . Por exemplo, Canção do Exílio compõe-se de cinco estrofes. As três primeiras têm 4 versos e as duas últimas, 6 versos. As estrofes, em geral, podem ter de 2 a 10 versos, recebendo a seguinte denominação:
- Número de Versos Designação
3 versos Terceto
4 versos Quadra ou quarteto
5 versos Quintilha 6 versos Sextilha
7 versos Septilha
8 versos Oitava
9 versos Nona
10 versos Décima
- Sílabas gramaticais
Nº de sílabas 1 2 3 4 5 6 7 8 Sílabas métricas Mi nha ter ra tem pal mei * ras
Nº de sílabas 1 2 3 4 5 6 7 X
- Como você pôde observar, o número de sílabas métricas e gramaticais não coincidiu. As regras básicas para a contagem de sílabas métricas são:
- a)Só se contam as sílabas até a última sílaba tônica de cada verso.
- b)Havendo encontro de vogais, em palavras diferentes, elas podem fundir-se numa sílaba somente. É o caso da elisão.
- A contagem das sílabas métricas realiza-se até à última sílaba acentuada do verso, ocorra ela na última, penúltima ou antepenúltima sílaba gramatical da palavra (Ex.: mi/nhas / lá /(grimas); meu / de/ se /(jo); meu / co/ra/ ção ).
- Contracção da última vogal de uma palavra com a primeira vogal da palavra seguinte.
- Sinalefa - nome dado à contracção quando a vogal do fim da palavra se transforma numa semi-vogal, formando um ditongo com a vogal que inicia a palavra seguinte (Atrasado, ele... = a/tra/sa/d u / e /le > a/tra/sa/d we /le).
- Elisão - nome dado à contracção quando a vogal do fim da palavra é completamente assimilada pela vogal que inicia a palavra seguinte, desaparecendo (Ela ouviu... = e/l a / ou /viu > e/l ou /viu).
- Crase - nome dado à contracção quando a vogal do fim da palavra é igual à vogal que inicia a palavra seguinte, pelo que elas se fundem numa só (A casa amarela... = a / ca/s a / a /ma/re/la > a / ca/s a /ma/re/la).
- Ectlipe - nome dado à contracção quando a vogal do fim da palavra é nasal, perdendo a sua nasalidade para formar um ditongo com a vogal que inicia a palavra seguinte (com as colegas... = c õ / a s / co/le/gas > c ua s / co/le/gas).
- Hiato - quando duas vogais tónicas estão lado a lado, não pode haver contracção das duas, pelo que ocorre um hiato, ou seja, mantêm-se em sílabas independentes mesmo que uma das sílabas tónicas enfraqueça. O hiato diminuia a fluidez do verso, razão porque os autores se esforçam por o evitar (Tu ontem... = tu / on/tem).
- Diérese - Separação de duas vogais seguidas dentro de uma mesma palavra, de modo a que constituam duas sílabas diferentes (Ex.: sa/u /da/de).
- Sinérese - União de duas vogais, no interior de uma mesma palavra, que originalmente não formavam ditongo, de modo que constituam uma única sílaba (Ex.: pie /da/de).
- 1 2 3 4 5 6 7 8 Em cis mar so zi nho a noi te Mais pra zer en con tro eu lá Mi nha ter ra tem pal mei ras On de can ta o sa bi á
- E Canção do Exílio, quanto ao número de sílabas métricas, como se classifica?
- Tanto os quartetos, como as sextilhas são formados de versos heptassílabos ou redondilha maior.
- Vimos que o ritmo e a melodia dos versos são importantes na poesia. Mas há outro elemento que vem completar o ritmo do verso: é a rima . Rima é a coincidência de sons ao final dos versos. Não é a rima que faz um poema. É todo o conjunto de ritmo e sonoridade, emoção e expressão. Os poetas modernistas nem sempre usam a rima. Seus poemas são em versos brancos . As rimas podem ser classificadas de acordo com:
- a) A coincidência de vogais e consoantes: observe a primeira quadra de Canção do Exílio – sabiá e lá têm sons iguais na sílaba tônica; são versos soantes. Palmeiras e gorjeiam têm sons parecidos (apenas as vogais tônicas EI são iguais); são versos toantes.
- b) A posição do acento tônico: neste caso as rimas podem ser: agudas (as palavras que rimam são oxítonas); graves (as palavras que rimam são paroxítonas); esdrúxulas (as palavras que rimam são proparoxítonas).
- c) A distribuição nas estrofes: nesse aspecto, as rimas podem ser: emparelhas (sucedem-se duas a duas); alternadas (o 1º verso rima com o 3º, o 2º com o 4º etc.); cruzadas (o 1º verso rima com o 4º, o 2º com o 3º etc.); encadeadas (o 1º verso rima com o 3º, o 2º com o 4º e o 6º, 5º com o 7º e o 9º, e assim sucessivamente).
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