As fotos de Clarice
Aline Durães
Preencher lacunas e silêncios deixados por Clarice Lispector.
Esse foi o objetivo da palestra de Nádia Battella, professora de
Literatura da Universidade de São Paulo (USP), ministrada na manhã
desta terça-feira (23), na Faculdade de Letras da UFRJ. O evento,
intitulado “Clarice Lispector: Literatura, biografia e fotobiografia”,
integra o ciclo de conferências sobre a escritora, organizado por
docentes da unidade.
Através da exposição de fotografias, Nádia buscou resgatar
momentos até então pouco esclarecidos da vida da autora de origem
ucraniana. A professora apresentou imagens da família de Clarice, de
sua infância pobre em Recife, do relacionamento com o diplomata Maury
Gurgel Valente e dos filhos Pedro e Paulo. “Tentamos organizar as fotos
para contextualizar os textos de Clarice, para entender em que momento
de sua vida ela escreve cada um deles”, afirma a pesquisadora.
Para isso, Nádia refez a trajetória da escritora. Visitou os
lugares por onde Clarice Lispector passou. Foi à Ucrânia e conversou
com pessoas que conheceram seus familiares. Esteve no Recife para
arregimentar material que pudesse esclarecer a vinda da família
Lispector para o Brasil. Lá, descobriu que Clarice morou em um bairro
judeu com mais de 18 primos. Foi também à Suíça, à Itália e aos Estados
Unidos. A meta era compreender melhor as influências na obra de
Clarice Lispector dos quinze anos em que esteve fora do Brasil
acompanhando o esposo em carreira diplomática.
As imagens narram a trajetória desta que é considerada uma das
maiores poetisas da Literatura brasileira. Mostram, por exemplo, que,
desde criança, “Clarice já tinha o olhar de alma formada”. Permitem ao
público conhecer, para além da escritora, a jornalista que atuava no
Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), órgão de censura do Estado
Novo de Getúlio Vargas. Também evidenciam que Lispector, após alguns
anos no exterior, estava insatisfeita com seu casamento, o que refletia
em seus textos. Nádia compartilhou ainda imagens de locais, esculturas e
paisagens que estiveram presentes em crônicas da escritora. Do total
de fotografias, em apenas duas, Clarice esboçava sorrisos: uma em que
estava ao lado de uma amiga e a outra tirada no reencontro com um
antigo professor que lhe havia emprestado livros.
— Ler Clarice Lispector não é um processo fácil. É complexo e
ambíguo. Ela se deixa envolver em um fluxo no qual se perde o pé. A
leitura é uma aventura, um processo que não se sabe muito bem onde vai
dar. Para seguir nesse caminho, é preciso ter coragem. Não basta ler
Clarice de fora. Tem que mergulhar. Refazer os passos dela nos ajudou a
construir sua biografia e, consequentemente, a entender melhor sua
obra — enfatiza Nádia Battella.
Todas as imagens apresentadas durante a palestra estão no livro Clarice Fotobiografia, organizado por Nádia e publicado pela IMESP.
Fonte: http://www.olharvirtual.ufrj.br/2010/index.php?id_edicao=352&codigo=3
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