Há uns doze anos, me surpreendi quando escutei de um político
demagogo na televisão que a educação ruim, ela mesma, era o principal
problema do Brasil. Não demorou muito para perceber que aquele sujeito
tinha substituído em seu discurso a palavra “cadeia” por “escola”, por
conta de uma estratégia de marketing político. Mas o fato em si não
conseguiu ocultar uma boa nova: a percepção popular começava a mudar;
educação não era mais papo de intelectual, ou seja, de poucos –
tornara-se papo de “boteco”, popular. Começava a abrigar o inconsciente
coletivo.
Mas começava aí uma outra questão que perdura até hoje: a
esterilidade do raciocínio, ou seja, a falta de profundidade que a
reflexão sobre a importância da educação ganhou na sociedade. De modo
geral, a população sabe que ela deve ser prioridade para que o Brasil
cresça forte; mas e aí? Na prática, o que significa isso, se contamos
hoje com praticamente a universalização do ensino básico e uma sociedade
que vive quase em pleno emprego?
Acompanhar a pífia cobertura midiática da votação do Plano Nacional
de Educação (PNE) - e participar de seus debates – é necessidade de
primeira ordem. O plano define objetivos claros para os próximos dez
anos do tema. E as discussões fervem no Congresso Nacional neste
momento.
A grande questão da política pública de educação hoje é como reter os
estudantes numa escola de boa qualidade que lhe faça sentido, que lhe
auxilie na vida. No fundo, lutamos contra a evasão escolar e o desvio de
recursos. As políticas públicas federais devem focar nisso.
Na prática, precisamos atentar a três pontos na gestão educativa: (1)
mais recurso, (2) qualidade na gestão desse recurso e (3) inovação nas
escolas. Só assim, formamos e pagamos melhor os professores e garantimos
às escolas públicas autonomia e capacidade de inovação e, por
conseqüência, retenção de alunos.
Comprometemos quase 6% do nosso PIB para pagar a dívida pública e
questionamos se 7% do PIB para educação seriam suficientes. Angelo
Vanhoni, que é reator do PNE na Câmara, diz que 7,5% está mais que bom.
Estudantes e professores pressionam por 10%; adequado inclusive para
acelerar nossos anos de atraso (média compatível a países europeus e
Estados Unidos, segundo a Unesco).
Mas só dinheiro não resolve a questão – é preciso boa gestão. O
Brasil passou anos acentuando suas desigualdades sociais quando investia
muito mais em educação superior, do que na educação básica. Essa
defasagem diminuiu, mas não chegamos ainda a um número razoável de
investimento. Os Estados Unidos investem a media de US$ 8,8 mil por
aluno, nós não chegamos a US$ 1,5 mil, por exemplo.
Corrupção também estraga a educação. A Fundação Getúlio Vargas (FGV)
realizou inúmeros estudos relacionando baixo desempenho nos índices
educacionais municipais, com corrupção na gestão das cidades. O mesmo
índices dispararam quando o investimento em educação aumenta nos
municípios.
Sim, o grande problema do Brasil é a educação – e boa parte da
solução também. Para que essa máxima não se transforme em palavras
etéreas, é preciso acompanhar a pressionar por um PNE digno dos nossos
dez próximos anos. E esse é somente o começo do novelo embolado: a
educação infantil, que tem sido prioridade em diversos países do mundo,
parece ainda passar longe da agenda política nacional. Assunto para
outro artigo.
TAGS - angelo vanhoni, educação, educação infantil, fgv, gestão escolar, investimento, pib, PNE, qualidade da educação, recursos, unesco
http://portal.aprendiz.uol.com.br/2012/06/13/o-problema-do-brasil-e-a-educacao-mas-e-ai/
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